
Não tem jeito, falar de Footbag sem mencionar o Californian Games seria um sacrilégio, considerando que no Brasil 99% das pessoas que já ouviram a pronúncia da palavra Footbag, ficaram conhecendo o jogo graças ao Master System.Mas isso foi em meados dos anos 90 e a pergunta que fica é: por que ainda não existem praticantes de Footbag no Brasil?
Talvez a resposta esteja associada ao fator cultural, afinal os brasileiros não são obrigados a gostar de um jogo proveniente de um país estrangeiro. Isso sem entrar no mérito dos valores que as pessoas tem em relação ao país onde o Footbag foi inventado, os Estados Unidos. Entretanto, a inexistência de praticantes no Brasil deve-se, sobretudo, ao desconhecimento generalizado da essência do Footbag e a ausência de iniciativas que estimulem a difusão de informação e o aumento do número de adeptos.Sendo assim, este artigo tem dois propósitos simples: explicar o que é Footbag e fazer uma breve descrição do seu crescimento no Brasil.
Em 1972, no Estado do Oregon (EUA), Mike Marshall e John Stalberger resolveram adaptar um jogo que um deles havia aprendido com um índio que morava na redondeza. O jogo consistia na manipulação de uma pequena bola, utilizando-se todas as partes do corpo. Com a adaptação feita, eles passaram a usar somente as pernas para chutar a bola. Mike estava com um dos joelhos machucados e não podia forçar muito a perna, e foi naquele jogo que ele encontrou uma forma de se exercitar. Os dois passavam horas jogando e em pouco tempo ambos já tinham pleno domínio da bola. Até que uma hora a ficha caiu, e eles perceberam que o que era apenas um jogo poderia se transformar num esporte. Deram ao então recém criado esporte o nome de “Hack the Sack”, que passou depois para Hacky Sack. Só que Mike veio a falecer em 1975. John resolveu seguir adiante e passou a percorrer todo o país difundindo o novo esporte.
Com o tempo, novos adeptos foram surgindo, campeonatos começaram a ser realizados e o esporte foi aos poucos se organizando. Até o nome mudou, depois que John Stalberger vendeu a marca Hacky Sack para uma empresa multinacional fabricante de brinquedos. Agora sim, estava criado o Footbag.Hoje o Footbag possui praticantes em vários países. Além dos EUA, país onde o esporte é mais praticado, observa-se um crescimento considerável em países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Rússia, vários países europeus como a França, Dinamarca, Alemanha, Áustria, Finlândia e a famosa República Tcheca, berço de alguns dos maiores talentos do Footbag atual.Quem acompanha o crescimento do Footbag em nível mundial pode perceber claramente a sua evolução. O que era visto apenas como um jogo praticado por adolescentes com excesso de tempo livre, transformou-se num espetáculo de habilidade e de domínio do corpo. Isto porque nos últimos anos o Footbag passou por uma revolução radical, tanto em termo técnicos quanto de identidade. A sua revolução técnica decorre do surgimento do Freestyle, a modalidade mais fascinante e que vai além dos chutes. São centenas de manobras possíveis, realizadas seguidamente numa velocidade absurda, onde o expectador nem sempre é capaz de acompanhar a trajetória da bola. A revolução da sua identidade enquanto esporte diz respeito à construção de imagens e aos estilos preponderantes.
O vocabulário próprio, o jeito de se vestir, o estilo musical e até o jeito de colocar o cadarço. São várias características que atribuem ao Footbag uma identidade própria, um perfil único, como se observa em esportes semelhantes como o Surf e o Skate. Mas a verdade é que o Footbag ainda é um esporte caracteristicamente underground.Existem quatro modalidades de Footbag. O Freestyle (ou estilo livre, já mencionado), o Net (jogado com rede de forma semelhante ao futevôlei), o Consecutivo (onde duas pessoas realizam passes consecutivos uma para a outra) e o Golf (similar ao Golf tradicional, sendo que o objetivo é acertar o footbag dentro de pequenos funis). Cada uma dessas modalidades possui suas regras próprias e critérios específicos que determinam o vencedor em uma competição.Vale salientar que, na ausência de regras e critérios, o Footbag deixa de ser esporte e se transforma em um jogo, como outro qualquer. Entretanto, a essência do Footbag está justamente na sua concepção mais básica: o jogo.
Certa vez, quando eu tentava explicar o que era Footbag para uma amiga minha, ela me perguntou:- Eu não entendi bem qual o objetivo do jogo. O que o seu adversário tem que fazer?Eu expliquei pra ela que o Footbag era um jogo cooperativo. Como o próprio nome diz, um jogo cooperativo é aquele onde o comportamento dos jogadores visa a obtenção da cooperação entre os envolvidos. Trocando em miúdos, ninguém joga contra ninguém e, conseqüentemente, não existem perdedores. Pelo contrário, todos ganham ao final de um jogo.
Existem vários tipos de jogos cooperativos e eles são reconhecidos pela sua importância pedagógica na formação de jovens e crianças. Num mundo onde a concorrência é exaltada diariamente, é importante resgatar valores baseados no respeito e na cordialidade e, desde cedo, ensinar às crianças que elas não são obrigadas a ser contra alguém.Numa roda de Footbag, onde as pessoas jogam sem compromisso, existem certos procedimentos recomendados que, apesar de variar de acordo com o país, objetivam a cooperação entre os praticantes. Uma dessas recomendações sugere que a pessoa que erra e deixa a bola de footbag cair no chão deve passá-la para uma outra pessoa, de preferência aquela que menos teve a chance de jogar. O ato de passar o footbag após um erro demonstra que a pessoa entende que ela teve a sua chance, e já que errou, outra pessoa merece tentar também. Procurar passar para a pessoa que menos jogou é um sinal de respeito.Há um tempo atrás um amigo meu chegou pra mim e falou, em tom de desabafo:- Pô cara, o Footbag é o único esporte que eu não me sinto excluído. No futebol, por exemplo, ninguém passa a bola pra mim e sou um fracasso nos demais esportes.Ele era meu amigo e acabamos rindo da sua condição de perna-de-pau. Mas numa reflexão mais apurada, é interessante perceber o impacto que pequenos detalhes fazem sobre a auto-estima da pessoa. É bem verdade que ele é um jogador ocasional e que comete erros enquanto joga. Mas ninguém deixa de passar a bola para ele por conta disso. Todos que estão na roda sabem que ninguém tem o intuito de errar.Assim como ele, outras pessoas que começam a praticar também desenvolvem uma concepção própria sobre o Footbag.
Além do fator cooperativo, existe o fator econômico, já que o Footbag é um esporte barato onde equipamentos adicionais não são exigidos. Numa época onde o termo “democratização do esporte” virou moda, isto é altamente pertinente. A facilidade de carregar um footbag no bolso e jogar aonde quiser, é outra característica que é logo percebida. E assim, entendendo o Footbag enquanto jogo, chega-se à constatação do seu potencial num país como o Brasil.
Esta foi a razão maior que levou à formação da Associação Brasileira de Footbag, constituída por um grupo de pessoas que acredita no potencial do esporte e que está procurando fazer a sua parte. O fato é que em todos os países onde o esporte está crescendo, existe alguma organização formada com este fim.Aos poucos, pessoas que jogam ou que já jogaram estão começando a entrar em contato e a se conhecer. E as pessoas que nunca viram um footbag de perto, mas querem jogar, estão fazendo o mesmo. De alguma forma a coisa tinha que começar e pode-se dizer que o Footbag ainda está nos seus primórdios no Brasil.
É impossível ainda firmar quantos são os praticantes regulares, muito menos os ocasionais. A divulgação está ocorrendo principalmente na base do boca-a-boca e poucas veiculações na mídia foram realizadas. Aliás, a mídia enquanto agente de divulgação do esporte é assunto para um outro artigo e é um tema que merece muito cuidado a fim de evitar interpretações distorcidas sobre algo tido como novo.
Quem joga footbag não quer que ele vire mais uma “modinha” passageira. É preciso que as pessoas compreendam a sua essência, a “moral da história”.Da mesma forma como o Footbag vem evoluindo nos outros países, ele está evoluindo no Brasil. O que acontecerá no futuro ninguém pode prever, mas seria insensatez argumentar que ele não daria certo no “país do futebol”.Enquanto você lia este artigo, o Footbag estava evoluindo e alguém, em algum lugar do mundo, conseguiu fazer uma manobra nova. Que tal desenvolver a sua própria concepção do esporte?
Faça parte dessa evolução!Paz,através do esporte.
www.footbagbrasil.com.br
Um comentário:
Quem quiser conferir de perto o footbag, é só dar uma passada no pátio do Campus 2 da Unifra. Ah, sempre nos intervalos!
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