quarta-feira, 18 de junho de 2008

Santana e sua gata Iguaçu

Santana era uma índia velha lá dos fundos de vila Florinda, distrito desse Rio Grande, vivia muito sozinha, tinha alguns parentes distantes, mas prezava muito sua quietude. Embora nem tão quieta fosse, pois vivia de prosa com suas plantas e a bicharada do mato.Santana era assim: meio bicho do mato e uma igual entre eles.
Numa tarde depois de um almoço de carreteiro de ovelha com bolinho de couve frito em banha de porco castrado em lua errada, a veia sentiu uma reviravolta no bucho.
“-Alá pucha! Me passei na bóia!” e correu pra os seus jujedos. Se garantiu com algumas ramas de carqueijinha, e foi quando percebeu que já estava desfalcada sua farmácia natural, “-Bueno!” disse ela, “Já esta na hora de ir ao mato recolher meus jujos, se não como diz o outro, vou ficar num mato sem cachorro!”
Então lá se foi Santana a procurar suas ervas medicinais. Deixou a chaleira em cima do fogão pra aquentar a água pra o mate pra quando ela voltasse. Pegou uma sacola de matéria e se foi ao mato.
O sol estava alto quando Santana entrou no capão, mas não se apercebeu do rochedo de nuvens que vinha do chovedor.
E a véia se paro tranqüilamente a colher sua jujada, e cantarolava algo assim:
-Urtiga, pra problema nos “rin”. Angico: pra tosse. Pras varizes: erva de bicho. Cavalinha: pra problema nos “osso”. Pras noite de mau sono: capin-cidró. Furúnculo: malva. Pra os males da bexiga: também servia a urtiga. Pras palpitação: camomila...
E assim se foi Santana mato a dentro sem se dar conta do tempo. E numas dessas a “veia” furunga aqui remexe ali, fuça num tronco de angico velho onde sestiava uma jaguatirica e num mesmo “upa” a “veia” levo um “cagaço”e a gata outro, e a bicha veia largo o mato e ganhou o campo, mas lá fora era água que São Pedro mandava e nem de longe Santana enxergou a gata do mato.
Então já recomposta do susto, se deu por satisfeita com o que tinha em seu saco de matéria, e sem se assustar muito com a chuva, fechou bem sua sacola de matéria e de baixo d’agua se foi pra casa. Já que Santana estava bem acostumada com os humores de São Pedro , e naquela tarde particularmente o “home veio tava enfezado”!
Mas qual foi sua surpresa quando Santana chegou em casa e o mate já estava cevado e a jaguatirica sestiando no quentinho ao lado do fogão.
Santana nem se deu o trabalho de pensar no acontecido, sorveu o mate e pensou alto:
- Mah,que belo mate não Iguaçu?!!
E a gata “veia” só deu uma ronronada!
E assim se fez uma nova velha amizade!



Fernanda Irala Gomes

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